domingo, 29 de maio de 2011

Meu tempo era um sonho

Meu tempo era um sonho

Uma vez sonhei com o tempo, que ele existia. Mas era incontrolável. Teimava em passar, inteiro. E o danado era amigo da preguiça. Viviam abraçados, às vezes entrelaçados na cama, se refestelando, rolando pra lá e pra cá, até que... Caí da cama. E acordei. E estava atrasado. Não tinha mais tempo pra nada!

Bem... Quando se chega neste ponto, também tudo está resolvido. Não há mais nada a fazer. É o lado errado da linha de chegada. O tempo nos escapara. Perdeu-se o que quer que fosse que tinha de ser ganho. Não se atingiu o outro estágio da evolução.

De repente me vi em meio à brumas. Adivinhe... Era outro sonho. Mas desta vez era diferente. O tempo estava parado, bem ali na minha frente, com ar de desolação. À sua frente jazia, esquartejada, a preguiça. Ao seu lado, ainda ensangüentada, a foice que a despedaçara.

Milagre! Foi-me revelado o segredo! Particionar o tempo! E desta vez não o perdi. Com um vôo certeiro o derrubei e já me preparava para apanhar a foice quando... A cama quebrou. Ao acordar olhei para o relógio e ainda faltavam quinze minutos para o alarme soar. Eu o vencera. E tinha um bom pedaço dele para cada atividade do dia.

Comigo pensei: - Como era óbvio, bastava dividi-lo para conquistá-lo. Porém, o que era óbvio para Napoleão, passou despercebido para a minha mente despreparada. Para vencê-lo deveria ter a bravura e a disciplina de um guerreiro e a destreza de um peão para laçá-lo.

Nunca mais sonhei com o tempo. Não tinha mais vontade de dormir...


P.S.: Tempos depois testemunhei este trecho de conversa dentro do ônibus: “... tudo se encaixa perfeitamente. Com um menear de cabeça o controlamos. Basta não fazer nada e esperá-lo passar. Mas ele é um teimoso, pois teima em não existir. E é amigo da preguiça. Vivem abraçados, às vezes entrelaçados na cama ...". Pensei: - Este vai ter que sonhar muito ainda!
Guilherme Ignácio de Oliveira

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